Amor, morte, casamento, solidão, natureza: temas comuns ao cotidiano do ser humano, misturados com simplicidade de leitura, sem rebuscamentos exagerados, são características que estão contidas na literatura e principalmente nas poesias neoclássicas. Podiam ser organizados em forma de soneto com versos decassílabos, com a utilização da rima optativa. As expressões latinas carpe diem (aproveite o momento) e locus amoenus (lugar ameno) são bastante comuns na escrita e interpretação destes poemas. A linguagem utilizada é bem clara, com gramática impecável e nobre. A forma não é tão rigorosa como a do Classicismo. A poesia neoclássica se opôs ao barroco, no sentido em que buscava a simplicidade, representando a vida de uma forma harmônica.
A poesia neoclássica europeia fala mais de uma natureza idealizada, já a árcade brasileira se volta mais para uma natureza realista, diferente em cada região, mas com alguns elementos europeus. Na França, os ideais iluministas são as bases dos poemas.
Como foi dito acima, na França, os novos ideais iluministas eram a base dos textos. Os principais autores são Montesquieu (1689-1755) e Voltaire. O primeiro é autor, entre outras, da obra Do Espírito das Leis. Voltaire experimenta vários gêneros: tragédia (A Morte de César), poesia (Discurso sobre Homem). contos fantásticos (Zadig) e romance de fundo moral (Cândido). No final do século, uma visão crítica da aristocracia é dada por Choderlos de Laclos (1741-1803), em As Relações Perigosas, e pelos romances eróticos do Marquês de Sade (1740-1814) e de Restif de la Bretonne (1734-1806).
O neoclassicismo trouxe aspectos à poesia como:
Linguagem simples e objetiva traduzindo o racionalismo;
Presença da mitologia, devido à volta da valorização da cultura greco-romana;
Racionalismo, com uma valorização da verdade e busca do equilíbrio entre razão e sentimento;
Exaltação da simplicidade e da vida feliz no campo em oposição ao luxos da cidade;
Idealização da mulher e do amor;
Descrição de ambientes e da natureza;
Ideias Iluministas;
Uso de pseudônimos pastoris.
Segue abaixo um pequeno trecho de um dos mais famosos poemas que Tomás Antônio Gonzaga já escreveu, esse poema se refere á uma expedição deste autor em que ele se apaixonou por uma brasileira:
Marília de Dirceu
" Os teus olhos espalham luz divina
A quem a luz do Sol em vão se atreve;
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d'ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!"
"Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d'ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela! "
É possível perceber claramente a presença do amor e a admiração deste pela mulher em que o trecho a trata com o vocativo de "Marília". O autor demonstra um amor grato (retratado nos dois últimos verso) até mesmo pelo simples fato dessa mulher existir e possuir imensa beleza.
Outro poema Arcadista, por Bocage (um poeta lusitano, considerado o maior representante do arcadismo em Portugal):
Apenas vi do dia a luz brilhante - Bocage “Apenas vi do dia a luz brilhante Lá de Túbal no empório celebrado, Em sanguíneo carácter foi marcado Pelos Destinos meu primeiro instante.
Aos dois lustros a morte devorante Me roubou, terna mãe, teu doce agrado; Segui Marte depois, e enfim meu fado, Dos irmãos e do pai me pôs distante.
Vagando a curva terra, o mar profundo, Longe da Pátria, longe da ventura, Minhas faces com lágrimas inundo.
E enquanto insana multidão procura Essas quimeras, esses bens do mundo, Suspiro pela paz da sepultura.”
N
Bocage
este poema podemos observar alguns elementos neoclássicos como: ele ser escrito em forma de soneto (ter 4 estrofes, duas com 4 versos e duas com 3 versos; além de contar uma "história", possuindo a última estrofe como uma espécie de conclusão) ter a presença da mitologia (Túbal, Destinos, Marte) e figuras de linguagens como metonímias e eufemismos.
Outro importante autor neoclássico, foi o mineiro Cláudio Manoel da Costa que, em um de seus sonetos, traz claramente a exaltação da vida bucólica:
IVSou pastor; não te nego; os meus montados São esses, que aí vês; vivo contente Ao trazer entre a relva florescente A doce companhia dos meus gados;Ali me ouvem os troncos namorados, Em que se transformou a antiga gente; Qualquer deles o seu estrago sente; Como eu sinto também os meus cuidados.Vós, ó troncos, (lhes digo) que algum diaFirmes vos contemplastes, e seguros Nos braços de uma bela companhia;Consolai-vos comigo, ó troncos duros; Que eu alegre algum tempo assim me via; E hoje os tratos de Amor choro perjuros.
Na primeira estrofe, por exemplo, o autor afirma que sua contentação, sua felicidade, está em passar o tempo no pasto junto ao gado dele.
Lira XVII
Se lá te chegarem Aos ternos ouvidos Uns tristes gemidos, Repara, Marília, Verás, que são meus. As! dá-lhes abrigo, Marília, nos peitos; Aqui os conserva Em laços estreitos, Unidos aos teus.
O vento ligeiro, De ouvi-los movido, Os pede a Cupido, Que a todos apanha, E lá tos vai por. Ah! não os desprezes, Porque se conspira O Céu em meu dano, E a glória me tira De honrado Pastor.
Tem estes suspiros Motivo dobrado; Perdi o meu gado; Perdi, que mais vale, O bem de te ver. Se os não receberes, Amante por ora, Por serem de um triste, Os deves, Pastora, Por honra acolher.
Virá, minha Bela, Virá uma idade, Que, vista a verdade, Gostosa me entregues O teu coração. Os crimes desonram, Se são existentes; Os ferros, que oprimem As mãos inocentes, Infames não são.
Chegando este dia, Os braços daremos: Então mandaremos De gosto, e ternura Suspiros aos Céus. Por-me-ão no sepulcro A honrosa inscrição: "Se teve delito, "Só foi a paixão, "Que a todos faz réus".
Ao analizarmos esta lira percebemos que ela foi produzida quando Dirceu encontrava-se em um estado melancólico por estar preso, portanto, longe de sua amada. Este estado melancólico pode ser observado logo na primeira estrofe
"Se lá te chegarem
Aos ternos ouvidos
Uns tristes gemidos
Verás, que são meus."
A personificação do cupido (mensageiro do amor) se faz presente na segunda estrofe.
"O vento ligeiro
Deouvi-los movido
Os pede a Cupido
E lá tos vai por."
Ainda na segunda estrofe fica claro o posicionamento de Dirceu diante da situação em que se encontra, declarando ser inocente e portanto pede a Marília que não o despreze pois, ele está longe dela não porque assim quer, mas sim por uma injustiça do destino.
"Ah! não vos desprezes,
Retrato de Marília e Dirceu, baseado na obra de Tomás Antônio de Gonzaga.
Porque se conspira
'O céu em meu dano"
Neste trecho percebemos como Marília é importante para Dirceu pois, o simples ato de poder vê-la se torna mais precioso para ele do que sua própria criação de gado.
Tem estes suspiros Motivo dobrado; Perdi o meu gado; Perdi, que mais vale, O bem de te ver.
Na quarta estrofe Dirceu mostra-se, acima de tudo, confiante, acreditando que mesmo que estejam separados fisicamente um do outro, ela aguardará sua chegada uma vez que os crimes só desonrram se estes são existentes e, com o passar dos anos a verdade prevalecerá e mostrará a Marília que ele é inocente.
Virá, minha Bela, Virá uma idade, Que, vista a verdade, Gostosa me entregues O teu coração. Os crimes desonrram, Se são existentes; Os ferros, que oprimem As mãos inocentes, Infames não são.
Dirceu acredita que quando chegar o dia que será liberto, Marília e ele andarão novamente de braços dados e, quando este não mais existir, será colocado em seu sepulcro a honrosa inscrição:
"Se teve delito, "Só foi a paixão, "Que a todos faz réus".
Mostrando a todos que ninguem esta livre de sofrer por amor.
Lira XVII – Parte I – Marília de Dirceu
Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?
Porém que muito
Que irado esteja
O teu semblante:
Também troveja
O claro céu.
Eu sei, Marília,
Que outra pastora
A toda hora,
Em toda a parte,
Cega namora
Ao teu pastor.
Há sempre fumo
Aonde há fogo:
Assim, Marília,
Há zelos, logo
Que existe amor.
Olha, Marília,
Na fonte pura
A tua alvura,
A tua boca
E a compostura
Das mais feições.
Quem tem teu rosto
Ah! não receia
Que terno amante
Solte a cadeia,
Quebre os grilhões.
Não anda Laura
Nestas campinas
Sem as boninas
No seu cabelo,
Sem peles finas
No seu jubão.
Porém que importa?
O rico asseio
Não dá, Marília,
Ao rosto feio
A perfeição.
Quando apareces
Na madrugada,
Mal embrulhada
Na larga roupa,
E desgrenhada,
Sem fita ou flor,
Ah! que então brilha
A natureza!
Então se mostra
Tua beleza
Inda maior.
O céu formoso,
Quando alumia
O sol de dia,
Ou estrelado
Na noite fria,
Parece bem.
Também tem graça
Quando amanhece;
Até, Marília,
Quando anoitece
Também a tem.
Que tens, Marília,
Que ela suspire,
Que ela delire,
Que corra os vales,
Que os montes gire,
Louca de amor?
Ela é que sente
Esta desdita;
E na repulsa
Mais se acredita66
O teu pastor.
Quando há, Marília,
Alguma festa
Lá na floresta,
(Fala a verdade!)
dança com esta
o bom Dirceu?
E se ela o busca,
Vendo buscar-se,
Não se levanta,
Não vai sentar-se
Ao lado teu?
Quando um por outro
Na rua passa,
Se ela diz graça,
Ou muda o gesto,
Esta negaça
Faz-lhe impressão?
Se está fronteira,
E brandamente
Lhe fita os olhos,
Não põe prudente
Os seus no chão?
Deixa o ciúme,
Que te desvela:
Marília bela,
Nunca receies
Dano daquela
Que igual não for.
Que mais desejas?
Tens lindo aspecto;
Dirceu se alenta
De puro afeto,
E pundonor.
Estudo de obra da Lira XVII (Parte I):
• No início da lira Dirceu diz que Marília foi perturbada por alguém e ele está com raiva, e a própria Marília também está.
• Depois Dirceu diz que em todos os lugares existem pessoas namorando e assim como onde tem fumo há o fogo, onde há o amor, tem também cuidados. E é por esse motivo que ele cuida tanto de Marília, se preocupando com alguém que possa querê-la.
• Com a beleza, pureza de Marília não há um homem que não irá querê-la. Qualquer um romperia cadeias e tudo o que impedissem para ter Marília.
• Mesmo se embelezando, se cuidando, fazendo tudo para ficar bonita, nenhuma mulher com dinheiro irá conseguir ter um rosto tão bonito como o de Marília – nesta parte ele faz referência a Laura, uma moça rica que usava boninas nos cabelos que mesmo com todo o dinheiro não se comparava a amada de Dirceu.
• Marília pode estar desarrumada, toda desgrenhada, mas para Dirceu é nesses momentos que ela fica ainda mais bonita.
• Ela está sempre cheia de graça, de beleza, seja no amanhecer ou na noite estrelada.
• Em uma festa quando uma mulher quer dançar com Dirceu e o busca para que levante, ele vai. Quando passa na rua uma mulher e o olha ou faz graça, ele faz o mesmo. Mas ele faz tudo isso por cavalheirismo e não fará nada com que não for igual a Marília, e ela não deve ter ciúmes dele por causa disso.
Abaixo, um exemplo de poesia neoclássica brasileira
SONETO DO MAIOR AMOR
Vinícius de Moraes
Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada. Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer - e vive a esmo Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo.
O objetivismo e a razão entram em cena,a linguagem deixa de ser complexa e passa a ser mais objetiva.A busca por uma vida simples,valorização do viver presente e da natureza assim como a idealização da mulher amada * neoclassicismo:Editar